quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Partiste...


Com o coração nas mãos subi a rua
Temia encontrar a casa vazia
A rua deserta
Embora soubesse que já não estavas lá
Que nunca mais esperarias por mim
Continuei a subir.

A porta estava fechada
As cortinas corridas
O degrau já não tinha as migalhas do costume
Os pombos já não estavam no galho do salgueiro
Ouvindo as histórias que me contavas
Escutando a música da tua velha viola.

Abri o portão e entrei no jardim
Que em tempos fora verde e florido
Aquele em que descobri o arco-íris
Onde busquei mil e um tesouros
Onde fui criança, princesa, pintora.

Sentada à sombra pintei o meu mundo
Usei como cores a tua paixão pela vida
Como folhas a minha vida, os meus sonhos
Colori de mil e uma cores …
Dos rabiscos surgiram formas
As formas ganharam vida
Tornaram-se aquilo que sou.

Tudo calmo…
A água da fonte secou
O canteiro das roseiras deixou de florir
O salgueiro perdeu as suas folhas
Os pássaros não cantam mais.

Tu já não estás lá
Ajoelhado junto ao vaso
Cantarolando alegremente
Mais uma canção mágica
De segredos dos tempos idos
Regando os amores-perfeitos.
Partiste numa viagem sem volta
Num destino sem retorno
Numa cavalgada do corcel alado
Para uma guerra da qual não ganhaste a mais importante batalha.

Sentei-me no degrau
Parti o pão em migalhas
Deitei-o ao chão
Mas os pássaros não vieram.

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